A humanização é o que impulsiona o crescimento das cooperativas de crédito
Publicado há 5 anos - Por CREDJUST
Com bancos tradicionais fechando agência e criando atendimentos por meio de robôs e uma onda de bancos digitais onde você nem sequer sabe o nome de seu gerente, as cooperativas de crédito oferecem como alternativa atendimento humano, empático e cordial.
De um lado, fintechs, bancos digitais, grandes investidores do Vale do Silício, vantagens para os usuários, grandes atrativos aos jovens e tecnologia de última geração. De outro, bancos centenários e tradicionais tentando se reinventar para se adequar aos novos tempos. Onde estão as cooperativas de crédito neste cenário?
Elas estão cuidando de gente. Literalmente. Enquanto os bancos e as grandes empresas enxugam suas estruturas físicas, automatizam o atendimento e buscam formas digitais para atingir públicos cada vez mais jovens, as cooperativas estão humanizando o atendimento, investindo em agências e no contato com as pessoas, inclusive as mais simples.
Um exemplo sintomático desse processo é a experiência de entrar em uma agência de uma das redes de cooperativas de crédito. A loja é projetada para não se parecer nada com um banco. “O propósito da nossa cooperativa é humanizar as relações financeiras e a gente trabalha fortemente com esse olhar. Recentemente, alteramos todo o layout das nossas agências, de forma que o cooperado não entre naquela casa e tenha um atendente atrás de um balcão e ele fique em uma fila esperando. Não temos mais balcões, trabalhamos no modelo co-working. Quando o cooperado entra na sala, ele é recebido por um colaborador, vai com ele até um espaço de café, levando seu computador, e atende o cooperado nos vários espaços à disposição, com design arrojado, leve, colorido e alegre. Isso tem feito uma grande diferença e ouvimos de nossos cooperados que eles vêm porque se sentem bem. Além de todos os benefícios da cooperativa, com a não cobrança de tarifas e taxas muito mais baixas, existe este valor do atendimento pessoal, que é muito importante para resolver tudo o que é necessário”, diz Solange Pinzon De Carvalho Martins, presidente do Conselho de Administração do Sicoob Meridional, cooperativa de Toledo (PR).
Cenário positivo
Atualmente, as cooperativas de crédito brasileiras contam com mais de 10 milhões de associados, entre pessoas físicas e jurídicas. Já são 5,4 mil postos de atendimento, que representam 16% de todas as agências bancárias em território nacional, com presença em 2.500 cidades Brasil afora.
“As pessoas estão enxergando o valor das cooperativas de crédito. O cliente bancário brasileiro está carente de bons serviços a preços justos, juros baixos e atendimento personalizado. Ao conhecer a cooperativa e enxergar todo esse benefício, ele ainda se depara com o tratamento próximo e atendimento diferenciado. Com isso, a tendência é que essa força aumente e seja cada vez mais presente no Brasil. A revolução digital chegou e as cooperativas de crédito têm um papel muito importante nessa onda também, usando as ferramentas mais modernas para o atendimento e suas operações. Vejo um futuro muito promissor”, diz Camila Viana, pesquisadora e professora universitária especialista em Cooperativismo.
Além dos atributos que atraem o grande público também nos centros urbanos, as cooperativas aproveitam um momento especial do mercado. O consultor Carlos Alberto dos Santos, da Cosinergia Finanças, crê que o cooperativismo tem um papel importante a cumprir. Recentemente, em sua palestra na Conferência Internacional de Inovação, realizada no Paraná, ele pontuou este momento de evolução: “Os bancos digitais têm espaço, vão crescer muito. Mas as cooperativas existem há 170 anos e estão absorvendo as mudanças da sociedade há muito tempo. Com a era digital, tudo ganhou velocidade, os processos de mudança são muito rápidos e profundos. Eu acredito que o futuro das cooperativas é muito promissor”.
Santos acredita que o aparecimento das novas modalidades não ameaça sua existência. Pelo contrário. “Os bancos tradicionais estão reduzindo sua presença física, fechando agências e isso tem aberto oportunidades no mercado. As cooperativas começam a ocupar fisicamente o espaço deixado pelos bancos e isso é muito emblemático”. Segundo o consultor, os bancos estão reduzindo de forma acelerada o relacionamento com os clientes e isso vai ter seu preço, “pois as pessoas querem um tratamento diferenciado”.
Agenda BC
Junto com essa onda de oportunidades, as cooperativas de crédito ainda vivem um momento propício do ponto de vista da regulação do Banco Central. Com o lançamento da Agenda BC, na qual o governo estabelece um compromisso com a inclusão, a competitividade, a transparência e a educação financeira, o papel das cooperativas fica ainda mais importante.
Essas novas diretrizes do Banco Central ajudam no trabalho de inclusão do público de baixa renda no sistema bancário, no crédito rural, na educação financeira, e na busca do fomento da produção rural e das pequenas empresas.
Além disso, o governo tem editado resoluções, por meio do BC, que facilitam o trabalho das cooperativas. Exemplos são a Resolução 3.106/2003, que estabelece a livre admissão de associados, a Lei Complementar n°130/2009, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), a e as resoluções que estabelecem regras de governança, nova segmentação e eliminação de restrições ao quadro associativo das cooperativas.
Assim, utilizando-se de seu legado de atendimento personalizado, presença local e relações sustentáveis, as cooperativas de crédito estão fazendo uso das tecnologias, das transações digitais e dos aplicativos e somando tudo isso aos princípios do cooperativismo para estabelecer uma nova era no mercado de crédito.
Panorama do sistema nacional de crédito cooperativo
As cooperativas aumentaram sua presença por meio de unidades físicas próprias em 7% no ano, alcançando 92% dos municípios da região Sul e 58% da região Sudeste.
•A quantidade de cooperados cresceu 9%, com taxa de crescimento de aproximadamente 18% das empresas e 8% das pessoas físicas.
•O crescimento da carteira de crédito do SNCC intensificou-se em 2018, em alinhamento com o atual movimento de recuperação da economia. O crescimento anual atingiu 23% em dezembro de 2018.
•As captações de depósitos de associados no SNCC cresceram aproximadamente 18%.
•Apesar de o estoque do sistema cooperativo representar apenas 7,9% do total de crédito varejo, sua atuação contribuiu significativamente na recente retomada do crédito.
•Em 2018, as cooperativas atuaram principalmente no crédito rural e no crédito pessoal sem consignação na carteira de pessoas físicas, e apareceram como forte opção para pequenas e médias empresas.
•Em valores agregados, as cooperativas singulares continuaram com PR (Patrimônio de Referência) suficiente para cumprir com folga as exigências mínimas estabelecidas pelas normas em vigor.
•A qualidade dos ativos de crédito das cooperativas é superior ao restante do SFN, mas essa diferença tem diminuído ao longo do tempo. Após queda em 2017, a cobertura dos ativos problemáticos do SNCC aumentou em 2018 e está em linha com a média do SFN.
•O Índice de Basileia (IB) das singulares caiu de 30% para 27%, resultante principalmente de mudança normativa e de alteração na composição dos ativos, consistente com o aumento da participação das operações de crédito no ativo dessas cooperativas.