Copom sobe Selic aos 2,75% ao ano, primeira alta em 6 anos, e promete mais
Publicado há 3 anos - Por CREDJUST
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (17) a meta para os juros básicos (Selic) em 0,75 ponto, aos 2,75% ao ano. O patamar anterior era a mínima histórica alcançada pela taxa de referência no Brasil, habitada desde agosto do ano passado.
A decisão foi unânime. E esta alta não deve ser a última. Em comunicado, o BC avisou que, exceto por "uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude".
Caso se confirme esse prognóstico, portanto, daqui a 42 dias a Selic pode ir até 3,5% ao ano.
A última vez em que a Selic havia sido erguida foi em 2015, quase seis anos atrás, aos 14,25% ao ano. Passou a cair a partir de 2016, com alguns intervalos de pausa, até os 2% ao ano agora abandonados.
Uma minoria entre analistas acreditava que, mesmo com a atividade econômica em contração, seria preciso um "choque de juros" para esfriar os preços, com uma alta na Selic de 0,75 ou mesmo um ponto. E o choque chegou.
A decisão tomada pelo BC ficou desalinhada, dessa forma, da maior parte das apostas aferidas pelo Valor Data, que mirava num ajuste de meio ponto para cima. Em linhas gerais, seria um meio do caminho entre uma economia fragilizada por inevitáveis restrições de mobilidade para salvar vidas, e carente ainda de uma taxa estimativa, e uma inflação outrora vista com "temporária", mas que não vai embora.
Inflação "temporária" está durando
A alta no custo de vida medida pelo IPCA de fevereiro apontou para 5,20% em 12 meses. Está a bem além do centro da meta perseguida pelo BC neste ano, de 3,75% ao ano até dezembro. E a apenas um triz do topo da meta de 5,25% ao ano.
O principal vilão da inflação nos primeiros desses 12 meses foi o preço dos alimentos. Com as principais economias reagindo em grande parte na base de incentivos ao consumo, commodities agropecuárias sofreram forte choque de demanda global. E a "lei da oferta e da procura" tratou de agir jogando preços ao alto.
Além disso, riscos de várias ordens, entre sanitários, políticos, fiscais e ambientais, afugentam a moeda americana do país. Assim, produzir internamente em reais e vender em dólares virou um baita negócio para o produtor local, que prefere exportado boa parte de sua produção. Se mais escassos aos brasileiros, mais caros. De novo, a maldita da "lei" sendo implacável.
Mais recentemente, a vilania da alta generalizada dos preços tem sido da gasolina. De um lado, o choque de demanda internacional citado acima também impulsionou a compra de petróleo, que entrou em rali (sem hora para acabar) e puxa preços de combustíveis junto dele. De outro, a alta do dólar interfere nesse ritmo, por também compor parte significativa do preço da gasolina.
“O Comitê considerou o risco de uma inflação acima do teto da meta em 2021 real e que poderia prejudicar a inflação de 2022", diz Flávio Aragão, sócio da 051 Capital. "A decisão parece acertada, visto que o impacto dos itens dolarizados na inflação tem sido relevante e aumentos mais acelerados pode gerar uma valorização do real e tirar pressão dos itens mais impactados pela moeda”.
"A continuidade da recente elevação no preço de commodities internacionais em moeda local tem afetado a inflação corrente e causou elevação adicional das projeções para os próximos meses, especialmente através de seus efeitos sobre os preços dos combustíveis", escreveu o BC em seu comunicado. No entanto, a autoridade segue frisando que acredita que seja "temporário".
"A decisão passa uma mensagem ao mercado de que o BC está vigilante e que não hesitará em agir de forma tempestiva para fazer com que a meta de inflação seja cumprida", avalia Alexandre Espirito Santo, da Órama. "Com a inflação rodando acima de 5% em 12 meses e a taxa básica em 2% ao ano, estávamos praticando um juro real negativo de 3%, o que nos parecia pouco condizente com a trajetória recente dos preços."
Esta alta da Selic foca menos em coibir o consumo local, já que juros a 2,75% ao ano seguem bem abaixo do que se poderia chamar de um "aperto monetário". Para isso, nos cálculos mais recentes do BC, seria preciso juros ao ano além dos 6%. Esta alta de juros foca nessa frente cambial. Com eles mais altos, o retorno oferecido pela renda fixa brasileira passa a se tornar mais alinhado a toda sorte de riscos oferecidos aqui. E, dessa forma, mais dólares podem ser atraídos ao país ou menos afugentados. O que, por sua vez, pode pressionar o seu preço em reais para baixo.
José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimento, destaca essa visão do BC, de que a economia brasileira não necessita mais de um grau tão forte de estímulo como vinha sendo dado. "Um segundo ponto importante foi ancorar as expectativas para 2022, já que o controle das expectativas vinha começando a ser perdido pelo BC", diz. "Caso isso acontecesse, seria muito difícil de ser revertido, causaria em perda de credibilidade deletéria para o futuro da política de juros no Brasil."
João Beck, economista e sócio da BRA, está no time dos surpresos, mas gostou da decisão. "Decidindo por um caminho de menor consenso, ancora melhor a expectativa e leva uma sinalização forte ao mercado de responsabilidade com a meta", diz.
Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, aponta para a velocidade em que vinham subindo as projeções de inflação do mercado nos últimos tempos, bem como vinha sendo levada para cima a ponta curta da curva de juros futuros. "O BC tenta agora concertar as coisas", diz. "A inflação em si depende não só dos preços correntes, que estão altos, mas também das expectativas."
fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/moedas-e-juros/noticia/2021/03/17/copom-sobe-selic-juros-aos-275percent-ao-ano-primeira-alta-em-6-anos-banco-central.ghtml