O futuro é cooperativista
Publicado há 5 anos - Por CREDJUST
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) não esconde a preocupação com a manutenção dos empregos em face desta grande onda global de busca por maior produtividade em todos os ramos da economia. Importantes entidades que lutam pela preservação do planeta também, frequentemente, alertam para a busca irracional e desenfreada por lucros a todo custo, sem qualquer preocupação social e ambiental.
Pensadores, economistas e gurus empresariais falam a todo tempo sobre a Indústria 4.0, mas muitos fixam-se apenas nos aspectos ligados aos processos produtivos. É preciso lembrar que essa nova revolução industrial, batizada de 4ª, prevê, fortemente, o emprego de tecnologias limpas (leia-se, mais sustentáveis) e valorização dos seres humanos.
E é neste novo cenário global que especialistas creem que as cooperativas assumirão protagonismo de primeira grandeza na Indústria 4.0. No ano passado, por exemplo, a responsável pela Unidade de Cooperativas da OIT, Simel Esim, destacou em comunicado “o impacto positivo do compromisso das cooperativas a favor de uma produção e consumo sustentáveis”. E citou a experiência positiva no Norte do Sri Lanka: “depois de anos da guerra civil, as cooperativas contribuíam para reforçar a resiliência das comunidades locais”.
Diz Simel: “tenho escutado histórias inspiradoras de outras regiões do mundo sobre a forma como as cooperativas puderam unir forças e contribuir com o consumo e a produção sustentáveis, e como melhorar, assim, as condições de trabalho por conta do intercâmbio comercial entre elas”.
De acordo com a dirigente da OIT, as cooperativas contribuem positivamente para criação e manutenção do emprego, já que são responsáveis por mais de 100 milhões de postos de trabalho atualmente em todo o mundo.
Em comunicado, a OIT diz que o intercâmbio comercial entre cooperativas pode ajudar a diminuir os custos do comércio, garantir preços mais justos e melhorar a de seus membros e, também, de toda comunidade. “Existem oportunidades não só na cadeia de insumos para a agricultura, como também na manufatura e em outros setores”, comenta a Simel.
Comércio justo
O objetivo é o de estimular uma ação comum a favor de práticas de produção e de consumo responsáveis, o desenvolvimento das economias verdes e circulares e a promoção do trabalho decente nas cadeias de produção. A OIT considera que as cooperativas não só são importantes como meio para melhorar as condições de vida e de trabalho das mulheres e homens em todo o mundo, como também colocam à disposição dos usuários infraestrutura e serviços essenciais, inclusive nas áreas esquecidas pelo Estado e pelas empresas investidoras (como os setores de saúde e financeiro, no Brasil).
Um bom exemplo é o Sicoob, Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, que tem 4,4 milhões de cooperados e é a quinta maior instituição financeira do Brasil, com 2,9 mil pontos de atendimento e 100 bilhões de reais em ativos. A despeito de sua atuação em serviços, na atividade financeira, o Sicoob sintetizou em artigo o que pensa sobre essa nova Revolução Industria que está em curso em todo o mundo:
“A quarta revolução industrial compreende um conjunto de tecnologias que permitem a integração entre os mundos físico, digital e biológico, já que a Indústria 4.0 pressupõe exatamente a cooperação entre esses diferentes meios”.
A coluna vertebral desse processo é a “cooperação”. “Hoje em dia é fundamental questionar quais as capacitações que precisaremos no futuro, saber por onde começar e quais mudanças a tecnologia irá trazer para preparar os profissionais”, explica o diretor da People+Strategy, João Roncati, destacando que, para revolucionar a indústria, “temos que reaprender a cooperar”.
Desde junho de 2017, o Ministério nacional do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) instituiu o Grupo de Trabalho da Indústria 4.0 (GTI 4.0), integrado por mais de 50 instituições entre públicas, privadas e da sociedade civil, para discutir temas pertinentes à implantação da quarta revolução industrial no país.
O GTI 4.0 já estruturou, inclusive, a Agenda Brasileira para Indústria 4.0, definindo etapas e metas para contribuir com a transformação do setor industrial nacional e sua efetiva modernização.
O que chama a atenção nessa jornada da indústria nacional para se tornar 4.0 é exatamente a ênfase na cooperação. Afinal, para chegar à quarta revolução industrial é necessário saber fazer boas parcerias tecnológicas e alianças estratégicas, reunir talentos com interesses comuns e fazer com que os sistemas físicos, digitais e humanos trabalhem de forma mais colaborativa.
No caso das instituições cooperativas, particularmente, essa transição para a Indústria 4.0 pode ainda ser favorecida por uma visão mais abrangente da própria cooperação, entendendo que o esforço conjunto de homens, máquinas e sistemas pode revolucionar o desenvolvimento da nossa indústria.
Marcelo Correa Medeiros, mestre em direção estratégica e MBA em gestão empresarial, defende que as cooperativas reúnem todos os elementos para liderarem essa mudança para a Indústria 4.0: “O conhecimento aplicado e compartilhado é fator essencial para o sucesso das cooperativas em um mercado cada vez mais hostil e competitivo”.
De acordo com Medeiros, “os modelos econômicos de gestão cooperativa têm como principal desafio promover o desenvolvimento sustentável das organizações, gerando valor para o empreendimento cooperativo, para os cooperados e para o meio ambiente”.
Fonte: mundocoop.com.br
Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 87